Algumas palavras aos meus jovens irmãos da Rússia (1869)
Introdução
Notas sobre Bakunin e a prática de “Ir ao Povo”
No excelente prólogo que o historiador Max Nettlau escreveu ao livro “Estatismo e Anarquia” publicado na edição francesa das Obras Completas de Bakunin se lê:
“Durante os três meses de 1972 houve a redor de Bakunin uma vida intensa, inspirou abnegação a muitos jovens, homens e mulheres, que logo se lançaram de corpo e alma a difícil propaganda popular na Rússia; que “foram ao povo” e que quase todos e todas, depois de algumas semanas, meses, ou raramente anos de agitação, caíram nas prisões para anos de calabouço preventivo e, depois do processo, por dezenas de anos na Sibéria. Ross, um dos últimos, caiu também, no começo de 1876; foram aproximadamente 25 anos para livrar-se de novo da Sibéria e do internamento em províncias, para voltar de novo ao ocidente alguns anos mai tarde; no atual momento, já octogenário, ainda vive, assim como também Z. Ralli.” [1]
A esta juventude, a estes valentes e sinceros lutadores, aos primeiros homens e mulheres combatentes anarquistas, foi escrita a carta “Algumas palavras aos meus jovens irmãos da Rússia” no ano de 1869.
Para Bakunin a tarefa da juventude consistia em situar-se na vanguarda das lutas do proletariado e dos camponeses. Para isso, era necessário que os jovens, com certo nível de politização, provenientes em sua maioria dos setores médios, assumissem a tarefa de servir como vanguarda do movimento popular de libertação.
Citando o apêndice A da primeira edição de “Estatismo e Anarquia” em 1873 de Bakunin, aponta Nettlau:
“O que pode fazer o nosso proletariado intelectual, a juventude revolucionária-socialista russa, íntegra, sincera e devotada ao extremo? Ela deve sem dúvida ir ao povo (idti y narod), porque, hoje, em todo o mundo, mas sobretudo na Rússia, fora do povo, fora dos milhões e milhões de proletários, não há mais, nem existência, nem causa, nem futuro. Mas como e com que objetivos ir o povo?"[2]
Ir ao povo implica atuar desde o povo, com ele e por ele. Contrária as posições de Lavrov ou de Marx, que preconizavam a educação do povo através dos mestres ou a sujeição do povo a política do partido composto por intelectuais e pequeno-burgueses afastados da realidade do proletariado e dos camponeses, Bakunin sustentou sempre a necessidade de fundir-se na vida popular, de ser povo e através desse pertencimento, dessa constatação da realidade, receber do povo a força elementar e o seu fundamento, mas em troca disso, lhes fornecer os conhecimentos positivos, o hábito da abstração e generalização e a capacidade de organizar e construir sindicatos que, por sua vez, criam uma força criativa consciente sem a qual toda vitória é impossível. [3]
A tarefa dos revolucionários não é “dialogar” ou “doutrinar” o povo trabalhador, nem muito menos “ajudar a desenvolver um pensamento revolucionário”, pelo contrário, longe destas pretensões claramente dirigistas e/ou idealistas e pequeno-burguesas, os revolucionários devem lutar para constituir-se na vanguarda consciente do proletariado, e para isso é preciso ser proletário, é preciso, acima de tudo, abraçar o Anarquismo Revolucionário e a luta pela Liberdade e pelo Socialismo.
“É preciso associar os melhores camponeses entre si e com os melhores operários das fábricas. É preciso instruir-lhes sobre o caráter geral da miséria na Rússia, sobre as forças elementares do povo, sobre a falta de coesão popular. Um periódico, incluindo notícias orais lhe informariam sobre as revoltas locais e sobre os movimentos revolucionários do ocidente. O povo deve ver a juventude em seu seio, trabalhando, na vanguarda de cada rebelião, consagrando-se a morrer na luta. A juventude deve trabalhar segundo um plano bem refletido e submetendo-se a mais forte disciplina para produzir essa unanimidade sem a qual não pode existir vitória. Deve educar ela mesma e educar ao povo não só para a resistência desesperada, como também para o ataques ousado. O proletariado não tem para si outra via de ação sem ser esta.” [4]
Depois de dezenas de anos que se escreveu estas palavras, Ir ao Povo, ainda continuam com plena vigência. A opressão brutal do proletariado e dos camponeses sob a bota do Csar e dos proprietários de terra perdura ainda atualmente sobre o conjunto dos explorados e oprimidos através da Ditadura do Capital/Imperialismo.
Este caminho apontado a quase 130 anos foi uma via traçada para a juventude revolucionária russa por Bakunin (e que) foi seguida pelos melhores, uma verdadeira elite de abnegação, homens e mulheres.”[5] Esta elite revolucionária é a que nós anarquistas revolucionários justamente lutamos para reconstruir em pleno século XXI.
Seguir o glorioso exemplo de Bakunin e de inumeráveis combatentes da classe operária e do povo oprimido através dos anos é a tarefa do momento.
IR AO POVO!
Abraçar o Anarquismo Revolucionário para alcançar a vitória!
Organização Popular Anarquista Revolucionária
Julho de 2008
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